sábado, 16 de agosto de 2008

BOFF, Leonardo A águia e a galinha. 34a edição. Petrópolis: Vozes. 1997.

Ø Todo ponto de vista é a vista de um ponto. P. 9.
Ø Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. P. 9.
Ø Libertação significa a ação que liberta a liberdade cativa. É só pela libetação que os oprimidos resgatam a auto-estima. Refazem a identidade negada. Reconquistam a pátria dominada. E podem construir uma história autônoma, associada à história de outros povos livres. P. 23.
Ø - Oprimidos, convencei-vos desta verdade: a libertação começa na nossa consciência e no resgate de vossa própria dignidade, feita mediante uma prática conseqüente. Confiai. Jamais estareis sós. Haverá sempre espíritos generosos de todas as raças, de todas as classes e de todas as religiões que farão corpo convosco na vossa nobre causa da liberdade. p. 24.
Ø Mas nisso lembro-se da tradição espiritual de Buda e de São Francisco. Eles viviam e pregavam uma ilimitada compaixão por todos os seres que sofrem. Recordou-se também da ética ecológica que reza: "bom é tudo o que conserva e promove a vida, mau é tudo o que diminui e elimina a vida". Até uma frase bíblica veio-lhe à mente: "escolha a vida e viverá". P. 56.
Ø Sem luz e sem sol, a águia não é águia. P. 56.
Ø Complexidade é uma das características mais visíveis da realidade que nos cerca. Por ela queremos designar os múltiplo fatores, energias, relações, inter-retro-reações que caracterizam cada ser e o conjunto dos seres do universo. P. 72.
Ø A natureza e o universo não constituem simplesmente o conjunto dos objetos existentes, como pensava a ciência moderna. Constituem, sim, uma teia de relações, em constante interação, como os vê a ciência contemporânea. Os seres que interagem deixam de ser apenas objetos. Eles se fazem sujeitos, sempre relacionados e interconectados, formando um complexo sistema de inter-retro-relações. O universo é, pois, o conjunto das relações dos sujeitos. P. 74.
Ø Complexo é tudo aquilo que vem constituído pela articulação de muitas partes e pelo inter-retro-relacionamento de todos os seus elementos, dando origem a um sistema dinâmico sempre aberto a novas sínteses. P. 75.
Ø O universo, cada ser, cada coisa, contêm dentro de si os dois movimentos, o caos (desordem) e o cosmos (ordem). P. 78.
Ø O caos não é simplesmente "caótico". Ele se mostra generativo e autocriativo. Abre espaço para a organização e para a constituição de ordens cada vez mais elegantes (cosméticas) e portadoras de sentido. P. 77.
Ø O caos nunca é absoluto e a ordem, jamais estável. Tudo está em processo permanente e aberto, em busca de um equilíbrio dinâmico. P. 77.
Ø Ao mesmo tempo, cada um é totalmente homem/mulher-alma na medida em que possui interioridade. Que capta a ressonância das coisas dentro de si, que experimenta e não apenas sabeo que se sente conectado com o cosmos como um todo dinâmico. Que se move no ilimitado do desejo, do sentimento, do amor e do pensamento. Que faz a ultrapassagem de todos os limites do espaço e do tempo (pelo espírito, habitamos as estrelas e temos o universo dentro de nós) que pode entreter uma relação de intimidade para com a realidade suprema, Deus. É a dimensão-alma que corresponde em nós à dimensão-águia. P. 83.
Ø O império dos sentidos, do desfrute, da utilização das coisas para benefício do ser humano: o domínio da galinha. P. 84.
Ø A primeira dimensão-galinha - funda o positivismo. A Segunda - a águia - o idealismo. Erro seria separar o que em Emanuel vem junto: sua dimensão discernível, concreta e palpável - galinha. Ou, sua dimensão possível, virtual e utópica - águia. P. 87.
Ø O factual e o virtual são simultâneos. O virtual pertence ao real ao seu lado possível. O real é o virtual realizado, antecipado e historiado dentro das condições de nosso espaço-tempo. Portanto, sempre de forma delimitada e territorializada. P. 87.
Ø Função da religião é criar as condições para que cada pessoa possa realizar seu mergulho no Ser e encontrar-se com Deus, Útero de infinito aconchego e paz. P. 89.
Ø ETHOS - ética, em grego - designa a morada humana. O ser humano separa uma parte do mundo para, moldando-a ao seu jeito, construir um abrigo protetor e permanente. A ética, como orada humana, não é algo pronto e construído de uma só vez. O ser humano está sempre tornando habitável a casa que construiu para si.
Ético significa, portanto, tudo aquilo que ajuda a tornar melhor o ambiente para que seja uma morada saudável: materialmente sustentável, psicologicamente integrada e espiritualmente fecunda. P. 90.
Ø Moral, do latim mos, mores, designa os costumes e as tradições. Quando um modelo de se organizar a casa é considerado bom a ponto de ser uma referência coletiva e ser reproduzido constantemente, surge então uma tradição e um estilo arquitetônico. Assistimos, ao nível dos comportamentos humanos, ao nascimento da moral. Nesse sentido, moral está ligada a costumes e a tradições específicas de cada povo, vinculada a um sistema de valores, próprio de cada cultura e de cada caminho espiritual.
Por sua natureza, a moral é sempre plural. Existem muitas morais, tantas quantas culturas e estilos de casa. Ps. 91/92.
Ø Concluindo, podemos dizer: a moral representa um conjunto de atos, repetidos, tradicionais, consagrados. A ética corporifica um conjunto de atitudes que vão além desses atos. O ato é sempre concreto e fechado em si mesmo. A atitude é sempre aberta à vida com suas incontáveis possibilidades. A ética nos possibilita a coragem de abandonar elementos obsoletos das várias morais. Confere-nos a ousadia de assumir, com responsabilidade, novas posturas, de projetar novos valores, não por modismo, mas como serviço à morada humana.
Não basta sermos apenas morais, apegados a valores da tradição. Isso nos faria moralistas e tradicionalistas, fechados sobre o nosso sistema de valores. Cumpre também sermos éticos, quer dizer, abertos a valores que ultrapassam aqueles do sistema tradicional ou de alguma cultura determinada. P. 94/95.
Ø Como o filósofo grego Heráclito dizia: "a ética é o anjo protetor do ser humano". P 96.
Ø Não disse o poeta Fernando Pessoa: "eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho de minha altura"? P. 102.
Ø Somos galinhas, seres concretos e históricos. Mas jamais devemos esquecer nossa abertura infinita, nossa paixão indomável, nosso projeto infinito: nossa dimensão-águia. P. 102.
Ø Sejamos galinhas e águias: realistas e utópicos, enraizados no concreto e abertos ao possível ainda não ensaiado, andando no vale mas tendo os olhos nas montanhas. Recordemos a lição dos antigos: se não buscarmos o impossível (a águia) jamais conseguiremos o possível (a galinha). P. 103.
Ø Assistimos ao esforço fantástico dos monopolizadores do Ter, do saber e do poder para nos reduzir a simples galinhas. Para nos manter somente nos limites estritos do galinheiro e do terreiro. Para nos subordinar aos seus interesses. Eles são os principais responsáveis pelas ameaças de devastação e de autodestruição que pesam sobre a terra e sobre toda a humanidade. Para continuar a usufruir dos privilégios usurpados, se fazem surdos ao clamor dos milhões e milhões de sofredores de todo o mundo e surdos ao grito lancinante da Terra. Atrevem-se a sufocar nossa águia interior, águia que nos impulsiona a gritar, a protestar, a resistir e a buscar caminhos de libertação. P. 105.
Ø É a hora e a vez da águia . despertemo-la. Ela está se agitando nas mentes e nos corações de muitos. Não só. Ela anima a história e penetra na própria realidade íntima de cada ser humano.
Uma águia nunca voa só. Vive e voa sempre em pares. Importa aqui recordar a lição de um mestre do Espírito. O ser humano-águia é como um anjo que caiu de seu mundo angelical. Ao cair, perdeu uma de suas asas. Com uma só asa não pode mais voar. Para voar tem de abraçar-se a outro anjo que também caiu e perdeu uma asa. Em sua infelicidade, os anjos caídos mostram-se solidários. Percebem que podem ajudar-se mutuamente. Para isso, devem se abraçar e completar suas asas. P. 107.
Ø Há uma larga tradição transcultural que representa a caminhada do ser humano, homem e mulher, como uma viagem e uma aventura na direção da própria identidade.
Como em qualquer jornada há riscos: incompreensões dos familiares, traições dos amigos, frustrações profissionais e fracassos no amor. Mas também conquistas: a descoberta da amizade, o florescimento do amor, a felicidade de experiências produtivas, o lento amadurecimento e o despontar da sabedoria da vida.
Nas viagens enfrentamos encruzilhadas. Que direção tomar? Somos obrigados a decidir em conformidade com nossos valores e com os grandes sonhos que alimentamos. Nas opções emerge o que somos por dentro: heróis e heroínas, fiéis até o sacrifício pessoal. Ou indecisos, covardes, vítimas de nossa própria omissão. P. 113.
Ø na nossa reflexão, herói/heroína é cada pessoa que assume a vida assim como se apresenta: com caos e cosmos, com ordem e desordem, com realizações e frustrações, com um buraco interior do tamanho de Deus. P. 114.
Ø No processo de nossa vida, lentamente vamos conquistando nosso ser, nosso lugar na sociedade, nossa profissão, nossos objetivos de curto e de longo prazo. É uma árdua caminhada. Temos de desenvolver nossos próprios recursos para sermos autônomos na jornada e não onerarmos os demais. Tal diligência demanda tempo, paciência e autoconfiança. A águia ferida teve de esperar até recuperar lentamente todos os sentido. Entendemos então a verde cantada pelo poeta: "Caminhante, não há caminho. Faz-se caminho ao caminhar". É a sorte do herói/heroína peregrino. Ps. 119/120.
Ø Nada do que realmente vale se alcança sem esforço e sem fatigante trabalho. P. 120.
Ø O mártir não ama a dor pela dor. Seria dolorismo. Como diz no martírio de S. Martinho de Tours no século IV: "ele não temia morrer nem recusava viver". O mártir aceita a dor, o sofrimento e eventualmente a perseguição e a própria morte como preço a pagar por causas e bens para os quais vale a pena jogar a vida. Sofrer assim é digno. O mártir, que pode ser cada um de nós, crê na lógica da semente: se não conhecer o escuro da terra, se não aceitar morrer, não viverá nem dará fruto. Quem quer conservar a vida, perdê-la-á. Quem ousar perdê-la, ganha-la-á, enriquecida, de volta.. portanto, é morrendo que se vive mais, é entregando a vida terrenal que se obtém a vida celestial. P. 121.
Ø Sábio tem a ver com saber e com sabor. Não com qualquer saber. Mas com saber que tem sabor. Ps. 121/122.
Ø O sábio aprende a ver as coisas do ponto de vista do Absoluto. Esse ponto de vista liberta dos enrijecimentos conceptuais e da sedução das ideologias. Consegue ver todos os caminhos como setas que apontam para a meta suprema. Nas muitas religiões, por exemplo, entrevê a religação de tudo com tudo e com a fonte donde todos os seres jorram. Em conseqüência dessa atitude, o sábio irradia gravidade e serenidade. Inspira confiança. Desperta, nos que se encontram à sua volta, o jogo interior do entusiasmo sagrado pela verdade, pela transparência e pelo despojamento. P. 122/123.
Ø O processo evolucionário supõe um universo perfectível, aberto e não acabado. A verdadeira natureza das coisas ainda não se realizou totalmente. Vai se concretizando na medida em que o processo avança. Só no termo da história cósmica e humana e não no seu começo valem as palavras das Escrituras: "E Deus viu que tudo era bom". Até lá as coisas não são totalmente boas. Podem sempre melhorar. Vale dizer, passam de situações menos boas para situações melhores. P. 126.
Ø A consciência pode entrever o termo do processo evolucionário. Nos sonhos e nas projeções do imaginário, antevê a perfeição e a plena realização das potencialidades da criação. Sonha com o mergulho humano no oceano insondável do Ser. Tem a capacidade de soltar por cima do tempo e do processo em curso e de se colocar na culminância derradeira da evolução.
Em razão desta capacidade da consciência, deriva-se um drama: como combinar a perfeição final com o estágio imperfeito atual? Por que temos que percorrer, pacientemente, este longo percurso até chegar à perfeição terminal?
O drama se agrava em face da realidade da entropia, do desgaste das energias, do envelhecimento natural e da inevitabilidade da morte. O dia ensolarado caminha lentamente para a noite escura. O ridente verdor da primavera desliza preguiçosamente para o vermelho alegre do verão. Para o amarelo sereno do outono. E para o cinzento desbotado do inverno. Todos os seres vivos nascem, crescem, maduram, envelhecem e morrem. Nenhuma força poderá deter esse curso irrefragável das coisas.
Considerando os já 3,5 bilhões de anos do universo e dos já 3,5 bilhões dos sistemas vivos, verificamos que a morte não é um fim derradeiro. Ela representa um momento de transformação dentro de um processo maior. Uma passagem alquímica para um estágio mais alto e mais complexo. A morte não nega a vida. Ela é uma invenção inteligente da própria vida para possibilitar a si mesma uma religação maior com a totalidade do universo.
Entretanto, não há apenas a morte. Há também a experiência da queda. Vivíamos uma situação segura, com certo número de certezas que nos causavam tranqüilidade. Por uma razão qualquer, as coisas começaram a entrar em crise, a perder suas estrelas-guias, a se decompor. De repente, decaímos desta situação. Vivenciamos a experiência dolorosa da queda e da expulsão do paraíso. A experiência da queda e da perda atravessa toda a nossa vida. A vida pessoal e coletiva é feita de altos e baixos, de ascensões e quedas. Ps. 127/128.
Ø Na liberdade podemos jovialmente hospedar a morte ou tentar, ilusoriamente, fugir dela. Pouco importa. Ela é soberana. Vem e sobrevém infalivelmente. Não se introduz no termo da vida. Instala-se já no seu começo. Lentamente vamos morrendo, minuto a minuto, em prestações, até acabar de morrer.
Dar primazia à vida, olvidando sua mortalidade, é cair pesadamente nos braços da morte. Acolher, com serenidade, a morte porque pertence à vida, implica dar primazia à vida e viver uma inexprimível liberdade. É viver mais e melhor. É ressuscitar.
A história da jovem águia que caiu do ninho e se feriu perigosamente nos lembra a condição humana decaída. Sempre estamos sob a ameaça de cair do paraíso em que nos encontramos. Esta situação de decadência faz nascer um permanente anseio de resgate e de libertação. P. 130.
Ø O amor incondicional é aquele amor que, como a palavra expressa, não coloca nenhuma condição para ser vivido. Nem condição de parentesco, de raça, de religião, de ideologia e de trabalho. Ama por amar. Entrega-se à energia universal que cria relações, gera laços, funda comunhão. Vai ao outro e repousa no outro assim como ele é. Sem intenção de retorno e de cobrança.
O amor incondicional possui características maternas, tem compaixão por quem fracassou. Recolhe o que se perdeu. E tem misericórdia por quem pecou, nem o inimigo é deixado de fora. Tudo é inserido, abraçado e amado desinteressadamente.
Esse amor incondicional é profundamente terapêutico: fortalece quem é assim amado, pois o acompanha e envolve em sua queda, impedindo que esta seja completa e irremissível. Não há quem resista à força do amor incondicional. Por causa dele tudo é resgatável. Ele rompe sepulturas e transforma a morte em ressurreição. Ps. 131/132.
Ø O amor incondicional crê nas virtualidades latentes em cada ser. Nunca desespera na confiança de que a própria natureza revele sua energia regeneradora, de libertação de. Sabe por intuição que sempre sobra uma chama a ser alimentada, uma palavra a ser ouvida e um sinal de esperança a ser interpretado Todos os sons, por mais destoantes, entram na imensa sinfonia universal. P. 134.
Ø Paulo Freire nos deixou este legado: "Ninguém se liberta sozinho; libertamo-nos sempre juntos". P. 134.
Ø Mas a missão principal das figuras exemplares é ensinar-nos permanentemente a cuidar do Ser em todas as suas dimensões, corporal, mental e espiritual. Só então seremos plenamente humanos. P. 144.
Ø Os mestres exemplares nos recordam a atitude fundamental que devemos Ter para com a integralidade do ser humano: o cuidado. O cuidado é tão fundamental que foi visto pelos gregos como uma divindade. Divindade que acompanha o ser humano por todo o tempo de sua peregrinação terrestre. Onde há cuidado, aí desabrocha a vida humana; autenticamente humana. Onde está ausente, aparece a rudeza, o descaso e toda sorte de ameaças à vida. Importa cultivar o cuidado como precondição essencial para a vida sob qualquer uma de suas formas.
Cuidado para com o corpo: na alimentação, para que nos seja apenas nutrição, mas comunhão com os elementos, com o ar que respiramos, com a água que bebemos, com as roupas que vestimos, com as energias que vitalizam nossa corporalidade.
Cuidado para com a nossa mente, especialmente para com os heróis e heroínas, deuses e deusas que nos habitam. Eles formam os valores que orientam nossa vida e aqueles arquétipos solares e sombrios que plasmam nosso caminho para o bem ou para o mal.
Cuidado especial para com aquela energia vulcânica que atormenta e realiza a mente: o desejo. Somos seres-de-desejo. O desejo possui uma dinâmica ilimitada e infinita. Não desejamos apenas isso e aqui. Desejamos tudo e o todo. Desejamos o absoluto. Importa orientar o desejo para que, ao concretizar-se em mil objetos, não perca o obscuro e permanente. Objeto de sua busca, consciente ou inconsciente: o Ser, Deus, o acolhedor Útero divino. P. 147.
Ø os mestres nos ensinam a cuidar das relações com os outros. Cuidamos dos outros porque os descobrimos como valores em si mesmos, religados à fonte do Ser, habitados por Deus que os está continuamente gerando como a seus filhos e filhas.
Por fim importa cuidar do espírito. O espírito é aquela dimensão da consciência pela qual a pessoa se sente ligada ao todo e religada à Fonte originante. O espírito continuamente projeta visões de totalidade e de unidade. Cultivar o espírito significa cuidar do Ser, manter viva a memória bem-aventurada de sua presença em todas as coisas. P. 148.
Ø O sol, numa palavra, é o centro vivo e irradiador da vida humana. P. 151.
Ø Qual a importância do Sol na vida das pessoas? O sol é o astro-rei de nosso sistema planetário. Mas é também o grande símbolo transcultural que capitaliza as questões ligadas à síntese viva. Síntese que deve irradiar luz e calor. E encher de significações a vida humana. P. 152.
Ø Santa Teresa d'Ávila, a grande mística espanhola no século XVI, escreveu: "O sol resplendente está sempre dentro da alma e nada pode arrebatar sua magnificência"; ou "ele está sempre presente para nos dar o ser".
O ser humano pode fechar-se aos chamados desse Sol e desse Centro. Pode querer negá-lo. Mas jamais poderá aniquilá-lo. Ele sempre estará aí como uma realidade imanente à alma. Ele constitui o fundamento da dimensão espiritual do ser humano. É a base antropológica da espiritualidade. P. 155.
Ø Deus se fez humano para que o humano se fizesse Deus. O Mestre Eckart, na verdade, o maior místico cristão de todos os tempos, ensinava, ainda no século XIV: "Deves conhecer a Deus sem imagens e sem semelhanças. Deves conhecê-lo diretamente. Se eu quiser, no entanto, conhecer a Deus diretamente, devo fazer-me Ele e Ele deve fazer-se eu". P. 162.
Ø O ser humano precisa unir enraizamento e abertura, luz e sombra, céu e terra, masculino e feminino. Urge saciar as duas fomes que o acometem: fome de pão e fome de espiritualidade. P. 168.
Ø Fato curioso: Jesus foi apresentado como luz, a Luz verdadeira que ilumina cada pessoa que vem a este mundo e não apenas os bastizados e seus seguidores. Ele é um dos arquétipos centrais do inconsciente da humanidade, o arquétipo da Imago Dei (imagem de Deus) e do filho de Deus. Ps. 170/171.
Ø A singularidade do cristianismo consiste em não separar, nem justapor, Deus e o ser humano. Mas uni-los de tal forma que, ao falar do ser humano, falamos de Deus e, ao falar de Deus, falamos do ser humano. P. 171.
Ø A sinceridade se situa no nível do eu consciente: a pessoa sincera diz o que pensa e age conforme sua idéia. Mas não necessariamente é autêntica. Pode não ouvir ser eu profundo e suas moções. Não é inteira porque não engloba todo o seu ser consciente e inconsciente. A sintonia fina entre os dois eus a faria autêntica e transparente. Sempre que esse processo ditoso ocorre, a pessoa revela densidade i inteireza. Não possui dobras. É solar e diáfana. É transparente e autêntica. A pessoa autêntica mostra leveza em seu ser e em tudo o que faz. Seu humor é sem amargura, seu desejo é sem obsessão, sua palavra é sem segundas intenções. A transparência constitui uma das características essenciais da divindade. A pessoa transparente se move na esfera do divino. Ps. 174/175.
Ø Recusamo-nos a ser somente galinhas. Queremos ser também águias que ganham altura e que projetam visões para além do galinheiro. Acolhemos prazerosamente nossas raízes (galinha) mas não à custa da copa (águia) que mediante suas folhas entra em contato com o sol, a chuva, o ar e o inteiro universo. Queremos resgatar nosso ser de águias. As águias não desprezam a terra, pois nela encontram seu alimento. Mas não são feitas para andar na terra, senão para voar nos céus, medindo-se com os picos das montanhas e com os ventos mais fortes. P. 176.

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